Logoterapia, você conhece?
a maior facilidade em se manter vivos durante aquelas terríveis circunstâncias, enquanto aqueles que não viam saída e que não se mantinham fixos em um objetivo futuro ou que não se apegassem a nenhum sonho ou esperança, estes ao contrário adoeciam mais rápido ou cometiam suicídio.
Frankl manteve-se vivo nestes anos sendo prisioneiro graças à sua perseverança em sua técnica que se tornava ainda mais viva quando observava o comportamento de seus companheiros e o seu próprio; Frankl foi vítima de inúmeras doenças devido à extrema inanição, foi conselheiro, médico e trabalhador braçal no campo, enquanto escrevia em improvisados pedaços de papel anotações que iriam servir de material para seus livros.
A Logoterapia se concentra em grande parte no futuro e para ela a busca de sentido é a principal força impulsionadora do ser humano, esta busca refere-se primariamente à um sentido pelo qual manter-se vivo, sentido esse segundo Frankl que se traduz entre outras coisas através da função do indivíduo de estar no aqui e agora, ou seja, o que este efetivamente faz para sentir-se completo e útil em sociedade, para tal Frankl fala de feitos concretos que o sujeito possa realizar, como um ofício ou qualquer ação criativa feita “pelas mãos” do indivíduo.
Este conceito me faz lembrar a história de um famoso pianista francês que passou repentinamente a ter problemas em estar em cena, na verdade o problema deste experiente pianista que se apresentava há décadas em grandes teatros, não era o medo do público mas sim ‘o público’ pelo qual vinha se apresentando, este não via mais sentido em tocar para tal, então decidira trocar seu público burguês e os elegantes auditórios para tocar em hospitais públicos na França para pacientes graves e de baixa renda que nunca haviam ido à um concerto mas que apreciavam sua música e a ouviam com o coração, ao contrário da engomada platéia de antes que ir à um de seus shows era como comprar mais um artigo de luxo. Para este pianista seu sentido de vida naquele momento era este, ser voluntário em um hospital oferecendo sua música.
É interessante perceber no seu caso que ele não meramente ouviu e obedeceu a este ‘chamado’ mas sim também reconheceu que esta mudança é o que agora lhe oferece sentido para sua existência, através do exercício desta função para a humanidade.
Assim como Frankl coloca o sentido como questão central e mola propulsora para a vida, da mesma maneira a falta deste sentido ocasiona desde um latente sentimento de insatisfação até a total apatia do indivíduo, fazendo com que este se sinta incapaz e paralisado, possuindo dificuldades em enxergar suas próprias potencialidades e alternativas. A Logoterapia procura não apenas entender mas acima de tudo dar significado ao sofrimento, a fim de que haja uma nova percepção acerca do mesmo e que assim o paciente alcance um alívio psíquico e se liberte daquilo que antes o consumia.
Esta propõe oferecer ao paciente/cliente capacitação e autonomia a fim que este se responsabilize e por fim tome as rédeas de suas próprias escolhas na vida com consciência e em congruência plena com seus desejos e metas e não os de terceiros. Este modelo de pensamento também propõe que tanto as experiências positivas quanto as negativas na vida do sujeito possuem um sentido e que este é fundamental para o crescimento pessoal de cada ser, essas experiências são como os pontos de união de uma grande teia que se unem e formam o indivíduo, seguindo a idéia de que o ser humano está em permanente transformação e que seu engessamento em modelos não compatíveis ao seu próprio eu acaba que por definhar a energia produtiva e talentos pessoais que cada um possui.
Viktor Frankl foi o exemplo vivo de sua própria teoria, onde tantas vezes em situações de horror e humilhação foi capaz de sair digno e fortalecido, Frankl viveu até 90 anos de idade e ao longo de sua vida escreveu 39 livros publicados em 38 línguas e foi homenageado com 21 prêmios, um deles concedido pela PUC de Porto Alegre no Brasil.
Com tamanha humildade dedicou parte de sua carreira como médico atendendo em ambulatórios sociais; após sua libertação e prestes a lançar o livro Em Busca de Sentido, quis o publicar anonimamente, pois segundo ele mesmo dizia, era averso à qualquer tipo de exibicionismo referente à suas experiências vividas no campo, mas por insistência de amigos que o convenceram, este então decidira deixar publicar seu nome ao menos na folha de rosto do livro.
“Sempre e em toda parte a pessoa está colocada diante da decisão de transformar a sua situação de mero sofrimento numa produção interior de valores.”
Viktor Emil Frankl
Texto: Dipl.- Psych. Andreia Barreto de Miranda
Berufsverband Deutscher Psychologinnen und Psychologen-Mitglied
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