Aline Celi leva moda com sustentabilidade à Berlin Fashion Week
Foto: Micaela Schäfer, Aline Celi e modelo na Berlin Fashion Week. © Divulgação |
Aline Celi é 'designer de moda' e também faz figurinos para filmes. Nascida em Natal, Rio Grande do Norte, sempre foi muito interessada por Moda, História e Artes. Aos quinze anos começou a trabalhar como modelo pela Mega Model de Natal, mas viu que sua paixão mesmo era Artes e 'Design'. Então ela partiu para Buenos Aires, onde fez alguns cursos de Artes e depois começou estudar Administração.
Com o diploma na mão, Aline Celi resolveu estudar Moda na Europa. Como achava interessante a cultura, a língua e a historia alemã e tendo alguns conhecidos no país, decidiu estudar em Pforzheim, na Alemanha. A maior barreira foi o idioma alemão, mas logo conseguiu se entender com a língua e com a cultura e concluiu seu curso de Moda. Seu gosto pelo trabalho com artes a fez desenvolver uma técnica de pintura abstrata em seda e a abrir seu próprio negócio, criando a marca CELI em Karlsruhe, Baden-Württemberg.
A estilista logo recebeu o convite para participar da Berlin Fashion Week em julho de 2013, onde apresentou a mistura de um estilo minimalista, elegante e com tecidos naturais.
Vamos conhecer um pouco desta jovem estilista, que já desponta no mundo da moda alemã como grande promessa de sucesso!
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BNA: Você apresentará seu trabalho pela terceira vez na Berlin Fashion Week. Como entrou no mundo da moda européia?
ALINE CELI: Será a terceira vez no Berlin Fashion e temos convite para o Milão Fashion Week em setembro. Foi tudo muito rápido, direto. Depois da conclusão do curso, o diretor criativo do Berlin Fashion viu alguns dos meus trabalhos e o meu trabalho com sustentablilidade chamou sua atenção. Em dois meses eu e meu sócio, Caetano, que cuida de toda a parte administrativa, estruturamos a empresa e organizamos o show.
BNA: A sua marca pretende mostrar um diferencial? Uma espécie de 'filosofia da marca'? Qual seria ele?
ALINE CELI: Trabalhamos com moda sustentável, com tecidos orgânicos, e essa é uma das filosofias, juntamente com o engajamento social. Nosso estilo é elegante, para mulheres indepedentes que gostam de estar sempre na moda, mas que pensam na sustentabilidade e no bem comum.
BNA: Dá pra conciliar moda e engajamento social? Como identificar isso em suas criações?
ALINE CELI: Sim, porque moda pode transmitir uma mensagem que influencie indiretamente a sociedade. Através da moda que a gente veste, é possível passar uma mensagem subliminar à sociedade. A moda pode ser uma afirmação de alguma coisa que se quer mudar no mundo, ou uma maneira de dizer que não se gosta de alguma coisa. Os artistas desde sempre tomaram posições sobre a sociedade através da sua arte. No Brasil, no tempo da ditadura militar, havia também vários artistas que com a sua música ou com a sua literatura encarnaram uma forma de protesto e se bateram por uma sociedade melhor.
Tentamos colocar ou passar essa mensagem nos desfiles. Isso mostra o nosso desejo para a sociedade brasileira: o fim da corrupção e transparência na política, para que cada cidadão possa ver o que fazem os políticos, para que o Brasil possa se desenvolver e se tornar um país justo, com chances iguais para todos. Também na produção, onde procuramos trabalhar com uma associação de mulheres vítimas de violência doméstica.
BNA: É possível trabalhar com moda e manter a sustentabilidade ao mesmo tempo?
ALINE CELI: Sim o segredo está no 'design', na inovação, e trabalhamos com moda sustentável, com tecidos orgânicos. Atribuo a isso essa boa aceitação do mercado e dos críticos de moda pela marca.
Foto: Aline Celi e Caetano Silva © Julien Karl |
BNA: Você encontrou alguma dificuldade para ingressar neste 'mundo da moda' como estilista, por ser mulher ou mesmo por ser brasileira, ou isso foi um diferencial para despertar curiosidade?
ALINE CELI: Na verdade acho que ser brasileira foi um diferencial. Fui a primeira a entrar no circuito de moda do Berlin Fashion Week e todos esperavam um 'design' cheios de estampas, uma pegada bem "brasileira". Mas tenho um estilo bem reduzido e minimalista, até um pouco bucólico, o que na verdade não é o que os estrangeiros esperam dos brasileiros.
Foto: Berlin Fashion Week © Markus Garsha |
BNA: Seu primeiro desfile na Berliner Fashion Week teve um tom político-social, com imagens dos protestos acontecidos no Brasil em junho de 2013. Foi para você uma forma pessoal de apoio aos protestos? Qual sua motivacao para exibir aquelas imagens no desfile?
ALINE CELI: Foi bem na semana onde estava acontecendo tudo e não achei certo ficar alheia a tudo que estava acontecendo, fazer um desfile de moda bonito e simplemente esquecer que pessoas que conheço estavam sendo feridas, que minha mãe tinha medo de sair de casa por causa da violência causada. Tenho a mesma a opinião da maioria dos brasileiros, de querer um Brasil sem corrupção, com um governo mais claro, transparência na politica. É tanta disparidade entre politicos que chega a ser absurda. Resolvemos usar a atenção que temos nos meios de comunicação e também o desfile para mostrar que aqui também estamos contra esse sistema.
BNA: Quando e qual será o tema para seu próximo desfile?
ALINE CELI: Ah, não posso responder, ainda temos que guardar segredo (risos). Mas sempre tenho as minhas origens, tudo que vivi no Brasil e as pessoas que amo como inspiração.
BNA: Onde é possível adquirir suas criações na Alemanha? E no Brasil?
ALINE CELI: Na Alemanha vendemos para lojista com 'showroom' em Düsseldorf, Berlin e München. Também para países como Áustria, Suíça e Austrália. Estamos com algumas parcerias para entramos no Brasil a partir do segundo semestre [deste ano]. E, claro, através do site.
BNA: É possível fazer uma comparação entre trabalhar com moda na Alemanha e no Brasil? Onde o mercado é mais receptivo?
ALINE CELI: Berlin e uma das cidades mais 'cool' do mundo e conhecida na moda como berço dos novos designers. No Brasil, já ouvi até do Carlos Miele, é uma 'panelinha' muito fechada, é mais pelo 'QI' (quem indique) do que so pelo talento.
BNA: Você já passou por algum momento engraçado por causa do idioma ou de diferenças culturais na Alemanha?
ALINE CELI: Ai imagine quantos... (risos). Um deles: eu era a única estrangeira do curso [da uni], bem no começo do curso, era difícil para responder as provas. Então desenhava as respostas ou as palavras que não sabia o significado em alemão. Os professors falavam que se eu nao fosse aprovada na disciplina [deles], eles me aprovariam só para não ter que corrigir mais provas minhas...
Foto: Berlin Fashion Week © Markus Garscha |
BNA: Você curte futebol? Pretende acompanhar a Copa do Mundo?
ALINE CELI: Sim, claro, quem não sente aquela emoção quando a Seleção está jogando? Não poderia estar lá [no Brasil] porque será na semana do Fashion Week. E mesmo assim não iria! Como falei, não concordo com a maneira que a Copa e todos os gastos estão sendo conduzidos. Éuma disparidade incrível dos gastos astronômicos nas construções dos estadios. Muitos chegam a custar mais caros que a construção do Olympia Stadium em Berlin.
Não sou contra a Copa, pelo contrário, acho que é uma ótima chance para o Brasil se mostrar para o mundo. Mas é inaceitável que se tire verba da educação, que não coloque esse dinheiro para ser usado na saúde, sem contar toda a corrupção que rola com tudo isso. Fica bem claro que os menos favorecido quando acabar tudo isso são os milhões de trabalhadores brasileiros que continuarão precisando de segurança, saúde e educação e não terão a chance de sequer de entrarem nos estádios.
http://www.youtube.com/watch?v=xlpiS6Osjxo
Créditos:
Fotos e vídeo: Divulgação, gentilmente cedidos por Aline Celi.
Links:
- www.alineceli.com
- Facebook: "CELI"
Entrevista concedida a Lia Alves para o Brasileiros-na-Alemanha.com, em maio de 2014.